25 de março de 2011

A Força da Ressurreição

D. Demétrio Valentini

O dia de páscoa celebra a ressurreição de Cristo. Nisto está toda sua força, e toda sua importância. Sem a ressurreição de Cristo, não teria havido história de Cristo, nem teria existido história do cristianismo.
Se tudo tivesse terminado na cruz, a morte de Cristo teria sido esquecida. Teria se perdido no turbilhão de tantas outras, anônimas, inúteis e igualmente injustas.
Mas tudo mudou com sua ressurreição. A partir dela, inclusive, passou a tomar sentido novo tudo o que a precedeu, e passam a receber significado diferente todas as mortes, mesmo que continuem parecendo anônimas e injustas.
A ressurreição de Cristo é o fato fundante da fé cristã. Fato tão verdadeiro, que sem ele não se explica a grande transformação ocorrida nos apóstolos, e o surpreendente processo desencadeado na história.
Nunca é demais enfatizar o impacto causado pela constatação objetiva do túmulo vazio, na madrugada daquele "primeiro dia da semana", com os subseqüentes desdobramentos vivenciados pelos apóstolos ao longo daquele mesmo dia.
Aquele "primeiro dia da semana", se tornou, na realidade, em símbolo da própria missão da Igreja, em símbolo também da história humana, que muda de sentido a partir da ressurreição de Cristo.
O que os Evangelhos narram daquele dia, tudo é muito verdadeiro, mas também tudo é muito simbólico. Pois a verdade testemunhada é maior do que a realidade onde ela se reflete. Ela ultrapassa os acontecimentos onde se revela. Por isto, os fatos são verdadeiros. Mas não se limitam àquele dia. Projetam seu significado para toda a história humana.
Foi um dia intenso, da madrugada até a noite. Impressiona constatar como os Evangelhos carregam o dia com episódios, que costurados cobrem por inteiro, tanto a madrugada, como a manhã, a tarde e a noite do dia da Páscoa.
Nada mais escapa à luz da ressurreição.
Começa pelo símbolo da madrugada. Jesus morreu no entardecer. Mas ressurgiu de madrugada. Pela frente estava a longa jornada, a ser preenchida com intensa atividade.
A partir de Cristo a história toma novo alento. Não é que ela termina com Cristo. Ela recomeça. Há muito que fazer. Existe uma grande empreitada a assumir. 0s que madrugam, como as mulheres naquele dia, descobrem o segredo da história, e são alentados pela certeza esperança.
Depois da madrugada, vem a manhã. Para usar a palavra em voga hoje na pastoral, a manhã foi toda ela dedicada ao "anúncio". Assim como a paciente caminhada dos discípulos de Emaús, naquela tarde, pode ser identificada com o desafio da "formação", do amadurecimento na fé, da busca de consistência e de maturidade. E as aparições de Jesus à naquela noite simbolizam a "celebração", onde Cristo é reconhecido na partilha do pão.
Todas etapas indispensáveis, a serem percorridas por aqueles que guardam a memória do Cristo ressuscitado. Foi assim que ele se mostrou naquele primeiro dia.
Portanto, cada momento deste dia simboliza uma dimensão da Igreja, simboliza igualmente um aspecto da história humana.
Em meio a tantas ameaças de morte, a Páscoa nos diz que podemos confiar na força da vida.
Em meio a tantas incertezas, que hoje levam as pessoas a se sentirem inseguras e perdidas, o episódio de Emaús nos adverte a necessidade de buscar as razões de nossa esperança.
A refeição do Ressuscitado com seus discípulos, a quem transmite a paz e renova a missão, nos mostra a urgência de refazer o ambiente de segurança e de confiança no íntimo de nossos corações e no seio de nossas instituições iluminadas pela fé cristã.
O dia de Páscoa é paradigma de todos os dias. "Páscoa não é só hoje, Páscoa é todo dia!"

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